domingo, maio 25, 2008

.O Cheiro do Lixo.

Eu não sei se deveria ter postado este texto. Às vezes eu penso que ele é daqueles tipos que devem ser lidos somente no escuro; noutras ele me parece absolutamente patético. Mas aqui ele está; foi finalmente uma batalha em que o ID venceu!...
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Certa vez, a quem perguntasse "o que é filosofar?", ouvi responderem que filosofar é aprender a morrer. Eu já desconfiava de que há um morrer outro que apenas alguns conhecem...
Há um morrer outro que só conhecem aqueles que assumiram consigo o compromisso de conhecer.

Em um primeiro momento, leva-se uma vida distraída, que é quase vida. Tudo é como se as coisas já tivessem o seu pulsar estabelecido, e a nós restasse apenas nos encaixar na melodia.
Mas, para buscar a verdade sobre tudo quanto nos for possível, é pré-requisito um desvincular-se do que é mundano, dessa quase-vida, em suma, é preciso morrer.
É somente morrendo pela primeira vez que somos capazes de despertar para a vida, de percebê-la em nós.
A primeira morte é, em si mesma, a chegada ao conhecimento da noção de morte. Ela não é vivência vislumbrada, ela não é termo que se aprende teoricamente. Saber da morte é ter morrido.
Apenas quando se atinge a noção de morte, isto é, de "começo" e "fim", é que podemos buscar o sentido de todas as coisas.
No entanto, eis a traiçoeira desilusão: o conhecimento do fim torna os meios injustificáveis.
Ao perguntarmos sobre o sentido da vida, a descobrimos totalmente vazia de propósito.
Após a primeira morte, a vida, de cadência surda, passa a ser como que um ruído tosco. É um sopro falhado capaz apenas de produzir um pulsar meio caduco.
E ficamos como se sobre o tabuleiro de um jogo que acabou, brincando com as peças que sobraram. Já não há mais regras, já não há mais ordem, porque já não há mais jogo.
É um viver sem compromisso com a vida. Uma vida consciente e descompromissada, onde absolutamente tudo se torna descartável, especialmente a própria existência.
Mas continuamos então sendo guiados por um sem caminho, somente pelo torpor mesmo de uma existência desértica.
Até que, cansados do limbo, cansados do lixo, saimos à procura de qualquer pedaço de motivo...
A vida após a morte é toda ela uma tentativa, um frágil rastejar.
No entanto, de súbito - ainda que um súbito bem tardio! - nos vemos retomando a pergunta. Apenas quando se atinge a noção de morte é que, trazendo consigo na mente as duas pontas da existência, consegue-se buscar o sentido de todas as coisas.
O sentido de todas as coisas confunde-se com o valor que elas têm e, principalmente, com o valor que elas podem ter.
Saber sobre o "começo" e o "fim" nos dá a possibilidade de valorar distintamente a realidade.
Ao questionarmos sobre o sentido da vida, esperávamos uma resposta dentre duas: ou ela não teria sentido algum, ou este nos seria revelado. Havia a esperança de completarmos a vida carregando conosco todo o seu esquema. Nós queríamos entender seu projeto construído, do qual participávamos "inercialmente" até então.
Mas e se a vida não tiver um sentido e sim qualquer sentido?
E se não tivermos nada para aprender a não ser a criar?
A primeira morte não nos tirou da inércia, como pensávamos...
Negar a vida é reprovar o valor que ela tem. Mas o valor que ela tem é aquele que lhe fora dado; é aquele, enfim, que o homem lhe dá.
O questionamento e a criação de valores são as ferramentas para a reconstrução de um mundo, isto é, são a chave para a recuperação do fôlego da existência.
Afinal, parece mesmo muita insanidade desistir de um jogo que não é seu!...
Deve-se continuar. Mas agora a cadência é criação nossa e seguiremos nada além do nosso próprio pulsar.
Arquitetar um mundo novo...
Isso é a descoberta mais interessante, indubitavelmente...
...
Mas é que nós, que resgatamos nossa vida do lixo, dificilmente conseguimos nos livrar do mau cheiro impregnado nela.

sábado, março 22, 2008

.Eles não sabem o que fazem.

























(...)
Minha família esfarelou-se.
E agora eu vou fingir que ela não é um pedaço muito quebrado de mim.

.Eu também quero ver.


Vou me fazer postar aqui a cada quinze dias, no máximo. Que é uma forma de incentivo e de alívio. (Coisa mais paradoxal...). Começo por dar a lume aquelas frases, idéias e quase-textos já escritos. Daí uma possível desconexão. Mas ainda assim é um post, certo? Ainda assim é verdade ou foi.